Free to play: os jogos grátis valerão a pena?

Free to play: os jogos grátis valerão a pena?

Os jogos free to play estão cada vez mais a ganhar terreno, mas será que valem a pena? São totalmente gratuitos? Quais são as vantagens? Se ainda não se inteirou sobre este tema, venha descobrir aquele que pode muito bem ser o futuro do mundo gaming.

O mundo dos jogos dá-lhe duas opções: adquirir um jogo, pelo qual só terá de pagar uma única vez, ou apostar num jogo de acesso gratuito com atualizações e modificações pagas — mas nas quais só investe se e quando quiser. Estes últimos são os free to play (F2P). Será este o futuro do gaming? Este modelo de negócio é sustentável?

 

Os free to play vieram para ficar

Os jogos gratuitos — que não exigem ser comprados para se poder jogar — estão rapidamente a tornar-se uma das formas dominantes de jogos online em smartphones, PCs e consolas.

O facto de serem gratuitos expõe-nos ao número máximo de jogadores que podem estar interessados em jogá-lo, ao mesmo tempo que permite aos dispostos a investir pagarem por certos itens de jogo se quiserem melhorar a sua experiência. O certo é que rendem milhares de milhões a programadores e editores ao longo do caminho.

No entanto, o sucesso destes jogos não está apenas relacionado com o prazer ou com o vício que os jogadores possam sentir. Os free to play utilizam algumas das mais eficazes ferramentas psicológicas em seu benefício, tornando-os dos mais rentáveis e também dos mais controversos.

A psicologia que rodeia o ‘Grátis’ é uma das mais poderosas ferramentas disponíveis para os marketeers. ‘Grátis’ oferece uma decisão sem riscos aos compradores e consumidores, com um potencial de pouco ou nenhum esforço a ser utilizado. Como seres humanos, tanto a perda como o esforço são duas coisas que tentamos ativamente evitar quando tomamos decisões se o reembolso (que pode ser ou não em dinheiro) não for suficientemente grande.

Free to play: os jogos grátis valerão a pena?A aversão à perda está bem documentada no campo da psicologia cognitiva e da economia comportamental. Aliás, a dor de perder pode ser psicologicamente duas vezes mais poderosa do que o prazer de ganhar. Assim, a ideia de não ter de pagar por um jogo em que estamos dispostos a ganhar algum prazer, ou mesmo a ganhar financeiramente (no sentido em que não gastamos para o comprar), é um convincente poderoso.

Se a parte ‘free‘ (grátis) em free to play explica porque é que tantos de nós ficamos viciados, como é que explicamos porque é que tantas pessoas estão dispostas a pagar para continuar a jogar?

A maioria dos jogos F2P oferece itens pagos que podem ser puramente cosméticos, acelerar a velocidade de progressão ou aumentar o poder do jogador. Todas estas aproveitam os diferentes objetivos e motivações dos jogadores, bem como inspiram nova vida num jogo com o qual os consumidores podem começar a aborrecer-se.

As pequenas transações oferecem ao jogador a capacidade de cumprir os seus objetivos dentro do jogo por um pequeno custo. Investigações demonstram que quanto menos estamos ligados ao ato de pagar (tal como utilizar um cartão de crédito ou pagar por uma assinatura mensal), menos dor psicológica sentimos e, por isso, mais gostamos do produto ou serviço.

Não surpreende, pois, que a maior parte dos jogos free to play utilize moedas virtuais dentro do jogo. Isto permite ao jogador fazer um pagamento inicial para comprar a moeda, mas depois disso todas as transações são feitas utilizando a moeda do jogo, assegurando que o jogador só precisa de experimentar o pagamento uma vez (até que queira comprar mais moedas).

Este é também um exemplo de um custo irrecuperável, uma vez que muitas vezes a moeda não pode ser reembolsada depois da compra ter sido feita, pelo que os jogadores continuarão a gastar o máximo possível da sua moeda virtual, o que depois aumenta a sua dependência e preferência pelos itens ou vantagens do jogo, criando um ciclo.

É claro que todos sentem a dor de pagar de forma diferente, mas o sucesso deste modelo apenas realça o seu apelo universal aos jogadores. Pesquisas recentes demonstraram que, embora o número de transações free to play esteja a aumentar, o montante nelas gasto está a diminuir ligeiramente.

Ou seja, reduzir a tal “dor psicológica de pagar” pode resultar num aumento do montante gasto com o jogo a longo prazo.

Vantagens dos jogos free to play

A maior vantagem acerca dos jogos free to play é, naturalmente, serem gratuitos. Este tipo de jogos nunca desilude, pois pode experimentá-los sem gastar nada em troca e, se não corresponderem ao pretendido, pode optar por não jogar mais sem a terrível sensação de ter desperdiçado dinheiro.

Se, por outro lado, gostou do jogo e gostaria de obter algum tipo de vantagem sobre os outros jogadores, pode investir nas possibilidades oferecidas. Este modelo de negócios já provou ser um sucesso.

Free to play: os jogos grátis valerão a pena?

Outro ponto a favor é que muitos dos F2P são tão bons quanto os jogos comprados. Os gráficos são excelentes e a ação multijogador é tão boa ou mesmo melhor. Há upgrades e adições ao jogo que são feitos com frequência, pelo que não terá de comprar a sequência do jogo — receberá uma atualização gratuita. Aliás, alguns jogos lançam novos mapas, novas armas e outros complementos ao longo do tempo.

Qualquer que seja a plataforma de sua preferência — consolas, PCs, mobile —, há um free to play. Este tipo de jogos estão disponíveis em todos os sistemas operativos e dispositivos, incluindo smartphones.

O facto de serem cada vez mais populares significa que há muitos títulos por onde escolher, pelo que é certo que cada gamer encontrará algo de que gosta.

Desvantagens dos jogos free to play

Os jogos MMO (Massively Multiplayer Online) free to play têm um defeito: os servidores podem estar congestionados e causar algum lag no jogo, algo que incomoda seriamente os gamers e prejudica a diversão. Nestes casos, é provável que um dos upgrades pagos seja a possibilidade de deslocar-se para outro servidor.

Há, de facto, uma desvantagem neste tipo de jogos: quem está disposto a pagar terá sempre uma grande vantagem em relação aos jogadores que não o fazem. Foi por este motivo que se cunhou o termo Pay 2 Win (P2W). Nem todos os free to play são ‘culpados’ disto, mas a maioria deles fornece atualizações pagas que dão ao jogador uma grande vantagem sobre os outros.

Assim, há que se ter em conta que, para realmente desfrutar deste tipo de jogos, poderá ser necessário realizar algum tipo de pagamento — ou aceitar que sem essa componente não é a mesma coisa.

 

Exemplos de jogos free to play

PES — agora eFootball

Quando no verão foi lançada uma demonstração surpresa do até então chamado “Novo Jogo de Futebol” esperava-se apenas uma antevisão do PES 2022. Em vez disso, soube-se que a franquia Pro Evolution Soccer (PES) da Konami ganhou um novo nome e passou a ser free to play. eFootball, o nome daquele que seria o PES 2022, é um jogo digital totalmente gratuito.

A nova tecnologia ‘Motion Matching’ da Konami garante movimentos realistas e parece ser uma resposta direta ao anúncio recente da tecnologia ‘HyperMotion’ da EA no FIFA 22.

Minecraft

Lançado em novembro de 2011, é um dos jogos com mais utilizadores ativos de sempre. Muito aclamado pela crítica e tendo já ganho vários prémios.

No Minecraft, os jogadores exploram um mundo 3D em blocos, gerado por procedimentos, com terreno virtualmente infinito, e podem descobrir e extrair matérias-primas, ferramentas e itens artesanais e construir estruturas ou aterros. Os modos de jogo incluem um modo de sobrevivência e um modo criativo.

Fortnite

Revelado originalmente em 2011, Fortnite é um multijogador online. Os modos de jogo incluem Fortnite: Save the World — um jogo cooperativo pay-to-play de sobrevivência para até quatro jogadores — e Fortnite Battle Royale, um F2P onde até 100 jogadores lutam em espaços cada vez mais pequenos até serem a última pessoa ou equipa vencedora. Ambos os modos de jogo podem ser jogados em multi-plataforma.

Fortnite

O Fortnite Battle Royale em particular tornou-se um sucesso astronómico, atraindo mais de 125 milhões de jogadores em menos de um ano e rendendo centenas de milhões de dólares à Epic Games.

Valorant

Lançado em 2020, Valorant, um jogo para o PC de tiro tático 5×5, com personagens originais que combinam munição com super poderes, já se revelou ser o próximo grande fenómeno gaming. Este é o primeiro first person shooter da Riot Games.

Uma mescla entre CS:GO e Overwatch, Valorant é uma arena global competitiva. Um jogo de tiro tático cujo objetivo é plantar ou desarmar a Spike. Os jogadores têm apenas uma vida por rodada, e vence a partida quem ganhar 13 rodadas primeiro.

Têm à sua disposição todo um arsenal de armas e munição. Os jogadores deverão escolher um dos 12 agentes — cada qual com habilidades adaptativas — para jogar e optar por um dos quatro mapas. Mas o que distingue este jogo é que o jogador deverá criar oportunidades com a sua criatividade e engenho para superar o adversário, desafiando-se a si mesmo tanto como aos oponentes.

 

Em conclusão…

Em resposta à pergunta colocada no título deste artigo — “Free to play: os jogos grátis valerão a pena?” —, a resposta é sim. Esta é a chamada de situação win-win: todos ficam a ganhar. Os jogadores são beneficiados porque se divertem sem custos (a não ser que os queiram fazer e, mesmo assim, decidem o quanto) e os criadores porque ficam a lucrar.

Free to play: os jogos grátis valerão a pena?

Os jogos gratuitos são provavelmente o futuro do mundo gaming, mais democráticos no acesso e cujos pontos a favor superam os contra. A crescente popularidade dos mesmos são a prova definitiva disso mesmo.

// RPT

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