Chama-se Android e há até quem pense que é uma marca de smartphones. O sistema operativo da Google é, hoje, uma verdadeira caixa de ferramentas que fez parte da evolução dos dispositivos móveis. Atualmente é também utilizado em carros, televisões, smart boxes, relógios e até frigoríficos. Acompanhe-nos numa retrospetiva pela evolução deste sistema.
O Android é um sistema operativo desenvolvido para dispositivos móveis, ou seja, trata-se do software responsável pela interface visual e gere todas as tarefas executadas pelo dispositivo. Este sistema operativo está presente em grande parte dos smartphones e tablets no mercado atualmente. Além disso, incorpora outros dispositivos como TV’s, carros, smartwatches, entre outros.
O nascimento do Android
A primeira versão oficial do Android foi lançada em 23 de setembro de 2008, mas a história deste sistema operativo iniciou-se em outubro de 2003, ano em que Rich Miner, Nick Sears, Chris White e Andy Rubin criaram, em Palo Alto, na Califórnia, a empresa Android Inc.
Seria esta empresa a desenvolver o então recém-nascido Android, um sistema operativo desenvolvido para câmaras fotográficas digitais que se podia conectar com um computador via wi-fi.
Entre o quarteto fundador da Android Inc destacamos Andy Rubin, o engenheiro de computação que é também apelidado de “pai do Android”, e com razão.
Andy Rubin teve passagens por empresas mundialmente reconhecidas, entre elas Carl Zeiss, WebTV, Microsoft e Apple. Ironicamente foi durante a sua passagem na Apple que foi apelidado de “Android”, devido à sua admiração por robôs. O engenheiro até usou o endereço www.android.com como seu site pessoal até 2008.
Com a queda de popularidade das câmaras digitais, a Android Inc decidiu apostar no mercado mobile, criando um sistema operativo para telemóveis. Apesar da ideia ser promissora, a empresa acabou por não ser bem-sucedida. No entanto, o projeto chamou a atenção da Google, que acabaria por comprar a Android Inc e contratar a sua equipa no início de 2005. Assim nascia a Google Mobile Division, divisão de pesquisa de tecnologia móvel da maior empresa do mundo de tecnologia.
Outro dos passos relevantes dados pelo Android foi quando, em 2007, a Google se reuniu a fabricantes como Samsung, Sony, HTC, LG, Nvidia, Texas Instrumentes e operadoras como a Sprint Nextel e T-Mobile, para criar um consórcio de tecnologia. Era assim fundada a Open Handset Alliance. O objetivo da união destas marcas era a criação de uma plataforma de código aberto para smartphones. O resultado foi o primeiro Android.
Mas, antes da primeira versão do Android Beta ser lançada em 2007, pelo menos duas versões foram lançadas internamente na Google. Uma delas foi batizada de R2-D2, as razões são evidentes.
Luta de titãs
Oficialmente, a primeira versão do Android foi lançada no dia 23 de setembro de 2008, com o smartphone HTC Dream. Nessa altura, o mercado era uma verdadeira luta de titãs. A Apple tinha entrado oficialmente no mercado dos smartphones no ano anterior (2007), o BlackBerry ainda estava no seu apogeu, o Symbian ainda estava presente em vários fabricantes como a Samsung, Motorola, LG e Sony Ericsson, e a Microsoft preparava-se para lançar o Windows Phone, que iria substituir o Windows Mobile.
No entanto, o HTC Dream tinha especificações interessantes: ecrã de 3,2 polegadas com 480×320 píxeis, processador Qualcomm MSM7201A de 528 MHz, 192 MB de RAM, 256 MB de espaço interno, câmara traseira de 3,2 mega pixels sem flash, bateria de 1.150 mAh, além de GPS, acelerómetro, Wi-Fi, Bluetooth e afins.
Como se não fosse o suficiente, o HTC Dream não se distanciava completamente dos BlackBerrys: o ecrã deslizava para o lado, revelando um teclado físico QWERTY, uma característica pertinente, mas que ainda se distanciava do ecrã touch do iPhone.
Poucos anos depois, a Android tornava-se numa referência e conquistava, ano após ano, uma maior quota do mercado. Assim como temos a rivalidade entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, hoje a competição nos sistemas operativos móveis é entre a Android e a iOS, uma competição que tem feito com que ambos os lados se tentem superar.
As primeiras versões do Android
O Android 1.0 era bem diferente daquilo que conhecemos hoje, mas já trazia recursos que hoje são essenciais, como o ecrã de bloqueio, função de copiar e colar, notificações, player de música, suporte da câmara e, claro, as apps da Google, entre elas Maps, Talk (mensagens), YouTube e Android Market (a antiga versão da Google Play Store).
Uma nova versão, a 1.1, seria lançada em fevereiro de 2009 e, dois meses depois, o Android 1.5 Cupcake. A partir daqui a Google passou a batizar, oficialmente, as diferentes versões com nomes de doces ou sobremesas (fala-se que o Android 1.1 já era chamado internamente de Petit Four). Entre as várias novidades, o Android 1.5 Cupcake marcou o início da era touch deste sistema operativo, introduzindo o teclado virtual como hoje o conhecemos.
A próxima atualização seria a Android 1.6 Donut, lançada em setembro de 2009. Nesta versão, a história deste sistema operativo ganhou suporte de conexões CMDA, o que tornou possível o uso deste sistema no mundo inteiro. Foi no Donut também que a barra de ferramentas apareceu pela primeira vez, dando acesso e controlo muito mais intuitivo a ferramentas como Wi-Fi, Bluetooth e GPS.
O Donut foi inegavelmente uma boa atualização nos quarenta e um dias em que foi a versão mais atual do sistema, até ser lançado o Android 2.0 Eclair. Nesta versão já era possível personalizar a página inicial do smartphone. Tanto apps, como widgets podiam ser organizados em pastas ou no ecrã.
O Eclair trouxe ainda papéis de parede interativos, bem como a primeira função de reconhecimento de voz e correspondente conversão para texto. Foi com esta versão que saiu o primeiro Samsung Galaxy S, iniciando assim a longa história da empresa coreana com o sistema operativo da Google e tornando-se no primeiro sucesso de vendas do Android.
Seguia-se a versão 2.2 Froyo, que trouxe melhorias de desempenho consideráveis e permitia controlar algumas funções através de comandos de voz, bem como criar ponto de acesso wi-fi. O Froyo também trouxe suporte para Flash para o navegador da web do Android. Esta versão tornou-se na primeira a ser integrada de fábrica num tablet, o Samsung Galaxy Tab.
Seguiu-se uma nova atualização, o Android 2.3 Gingerbread, a primeira versão a ter giroscópio, o que tornou possível usar aplicações que necessitavam do posicionamento do dispositivo ou da identificação de movimento. No Gingerbread, a interface foi remodelada e, para além dos sensores de movimento, esta versão introduziu o NFC e a câmara frontal.
Passamos agora para o Android 3.0 Honeycomb, a única versão lançada especialmente para tablets. Trata-se de uma versão otimizada do sistema para ecrãs maiores, que também integrou as primeiras Smart TVs.
Neste percurso, chegamos agora a 2011, ano em que era lançado o Android 4.0 Ice Cream Sandwich e que trazia novas melhorias visuais, mas não só.
Esta versão trouxe o reconhecimento facial, que permitia desbloquear o telemóvel através da câmara frontal e tornou possível a captura de ecrã. Incluiu ainda um editor de fotografias, entre outras melhorias de performance. Nesta versão passou a ser possível abrir o gestor de tarefas de forma simples, gerindo as aplicações em execução.
Em 2012 era lançado o Android 4.1 Jelly Bean e tinha como destaque o surgimento do Google Now, o assistente pessoal que permitia responder a dúvidas e que fazia recomendações baseadas nas pesquisas e interesses do utilizador.
Seguiram-se os lançamentos do Android 4.4 Kit Kat em 2013 e o Android 5.0 Lollipop, em 2014, que trouxe um novo visual através do conceito Material Design. Em 2015 era lançado o Android 6.0 Marshmallow já com suporte 4k e USB Type-C. Seguia-se o Android 7.0 Nougat que permitia a divisão de ecrã e que trouxe pela primeira vez o Google Assistant.
Em 2017 era apresentado o Android 8.0 Oreo e depois de dez anos após a primeira versão, a Google lançava a versão Android 9.0 Pie, que afirmou a forte aposta na inteligência artificial para melhorar a experiência do utilizador e com atualizações de segurança mais robustas.
Já em 2019 chegava o Android 10 que, para além de ser uma continuidade na aposta na inteligência artificial, trouxe novos recursos como as legendas em tempo real, uma ferramenta que permite gerar legendas instantâneas para qualquer conteúdo multimédia reproduzido.
Nesta longa caminhada chegamos a 2020, ano marcado pela pandemia de coronavírus, o que levou muitos utilizadores a exigirem mais dos seus dispositivos. As mudanças mais significativas desta versão estão centradas na privacidade do utilizador.
Chegamos finalmente a 2021 e ao Android 12, o qual está previsto ser lançado entre o final de setembro e o início de outubro. Porém, a versão Beta já foi apresentada durante o evento I/O 2021. A Google apresentou um reforço na proteção de dados, incluindo um novo Painel de Privacidade, que exibe de forma mais simples as permissões que uma aplicação tem. Esta versão traz um novo design na forma como apresenta o relógio e as notificações no ecrã principal. Esperemos até outubro para poder experienciar as novas mudanças.
O fim da linha (mas só para alguns)
Todos os fabricantes de smartphones e respetivos sistemas operativos vão lançando atualizações de sistema, até que chega a um ponto em que versões mais antigas de alguns equipamentos que deixam de ser suportados.
De facto, várias aplicações, principalmente as ligadas às redes sociais, deixam de funcionar em versões Android mais antigas. Isto acontece porque em muitos casos os equipamentos com especificações mais fracas já não conseguem acompanhar as novas funções que são continuamente disponibilizadas.
É o caso dos telemóveis que ainda executam o Android Jelly Bean (4.1), versão que foi lançada em julho de 2012, e que veem agora chegar o fim do acesso aos serviços da Google neste mês de setembro.
A gigante dos motores de busca afirmou que isto aconteceu porque o Jelly Bean representa agora menos de 1% do universo Android: só 0.7% das pessoas é que ainda usam esta versão. Para além disso, esta já não deve ter capacidade de correr várias aplicações que estão disponíveis na Play Store atualmente.
Assim, este é o fim da linha para alguns dos utilizadores Android que se recusaram a atualizar os seus equipamentos. É o preço a pagar pela inovação constante de tecnologia.
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