Quando surgiu a Internet também nasceu o seu lado mais obscuro, envolto em mistério e mais difícil de aceder. O lado negro da força da Internet. A Dark Web é, para muitos, um assunto enigmático. Neste artigo, vamos desmitificá-lo.
A Internet tornou-se um reflexo do mundo real tanto como parte dele. Ignorando as zonas cinzentas e o bom e mau que se encontra em cada lado da barricada, existe uma Internet superficial — que pode encontrar com uma pesquisa Google — e uma Dark Web, de difícil acesso e onde poderá encontrar segredos benignos e malignos do mundo digital.
Dark Web: o que se esconde nestes meandros
Este termo, por vezes substituído por Deep Web, pode ser usado para designar tudo aquilo que os principais motores de pesquisa como Google, Bing, Yahoo ou até sites com indexações menos convencionais (como o DuckDuckGo) não incluem nos seus rankings. Isto inclui estudos académicos obscuros, blogs sem acessos, entre outros.
O que normalmente associamos a estes termos é a procura de conteúdo e serviços ilegais, muitas das vezes pagos com criptomoedas como Bitcoin ou Ethereum. O acesso é difícil e cada vez mais dificultado, devido ao esforço das autoridades em investigar as atividades ilícitas que decorrem nesta rede — como se de uma recriação do intemporal mercado negro no novo mundo digital se tratasse.
Usando browsers como Safari, Chrome ou Firefox não conseguirá aceder a estas páginas ocultas. Um dos mais afamados browseres é o onion, assim conhecido porque vários dos websites na Dark Web terminam em .onion. Outro dos mais populares é o Tor. O Tor começou como um projeto focado em promover a privacidade na Internet, tendo sido rapidamente adotado como o standard.
Tráfico de drogas, redes de troca de conteúdo ilegal, ou serviços de hitman foram alguns dos pontos que celebrizaram a Dark Web no imaginário cultural mundial. A anonimidade, facilidade de acesso e ausência de contacto físico durante a transação tornaram esta ferramenta imensamente apelativa para quem procura e oferece estes bens ou serviços.
O que poderá lá encontrar?
No lado mais negro da Deep Web encontramos a infame Silk Road, um mercado negro essencialmente direcionado para a venda de estupefacientes. Criado em 2011 por quem veio mais tarde a descobrir-se ser Ross Ulbricht, um jovem americano a operar sobre o pseudónimo Dread Pirate Roberts.
Durante os dois anos em que operou, esta rede tornou-se o maior marketplace dentro da Dark Web e a sua queda em 2013 marcou uma nova fase na luta contra os lados mais obscuros da rede.
Na época atual de ideias espalhadas instantaneamente, esta é também uma ferramenta de recrutamento para organizações terroristas, onde fóruns e ferramentas de propaganda são partilhadas e utilizadas para chamar jovens de todo o mundo a juntarem-se e perderem-se nas entranhas das redes de terror internacional.
Nem tudo é mau nesta rede oculta. O seu secretismo e possibilidade de contornar limitações governamentais inclui a hipótese de ativistas e denunciantes organizarem as suas atividades longe dos olhares de governos repressores e organizações criminosas que vigiem a comunicação.
Os apologistas da Deep Web celebram-na como um refúgio do controlo constante por parte de governos, sentimento que ganhou força após as revelações de whistle blowers como Chelsea Manning ou Edward Snowden.
Um dos créditos que mais se atribuiu a esta parte da Internet é a naturalização pioneira do uso de bitcoin e outras criptomoedas em transações comerciais. Estas moedas são agora o centro da discussão no mundo financeiro e prometem fazer agitar as águas na perceção da sociedade sobre o dinheiro.
Mesmo dentro dos produtos vendidos na Dark Web, nem todos são ilegais. Os fóruns e plataformas de venda criadas servem como ponto de encontro para venda de arte subversiva, jóias, serviços de escrita, normalmente associados a sistemas de avaliação de vendedores e produtos, como acontece em plataformas ditas legítimas como a Amazon ou Ebay.
A Dark Web e o futuro
Desde a partilha de bases de dados de palavras-passes obtidas através de ataques a websites, ao planeamento desses ataques, o futuro do crime organizado irá incluir ataques de ransomware e outras ameaças contra as quais as empresas precisarão de criar defesas.
Assim, ter conhecimento do que é a Dark Web e dos perigos que por lá se proliferam, os quais podemos ter que enfrentar um dia, é fundamental no combate ao cibercrime.
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